Leio jornais, vejo tv, o mundo está uma bosta, mas o Brasil tem seu jeitinho peculiar de me deixar descrente. Bolsonaro e seus ministros ainda estão no poder, destruindo tudo que veem pela frente com um sorriso cínico, sinal de arminha e a complacência de quem fez essa "escolha difícil". Não vou me conformar com isso n u n c a.
Olho pros livros na fila de leitura com uma esperança de que serão melhores. Fiz um acordo com o atual de terminá-lo primeiro, mesmo irritada. "Minha vida de Rata" é bom, mas me dá nos nervos. Quero saber o final, mas também bater na personagem principal e narradora. Tem passagens que ela fala de sentimentos e imagens de uma forma muito viva, em outros se perde tentando ser mais dramática do que precisa. Mas vou terminar, cacete!
E aí o corpo cobra por comida e não posso cometer o mesmo erro de ontem e da semana passada, de passar muito tempo sem comer e depois dar um apagão. Nesse dia de bode, eu acho que as pessoas imaginam (que pessoas? Não sei) gente gorda comendo sem parar, se enfiando em cheddar, refrigerante e nutela o dia todo, e talvez tenha gente gorda assim, mas não é meu caso. E falo de gorda não pra debater a categoria obesos, senso estético, gordofobia, nada disso. Estou falando em pessoas que pesam mais de 60kg e tem dificuldade de vestir P. Gente como eu, que quer emagrecer e não é muito fácil. Que pode ser considerada magra, normal ou gorda dependendo da foto, da roupa, enfim. Gente que ficou de fora dos favoritos de Deus, que podem viver de sorvete e batata-frita sem perder calças jeans.
Eu queria falar que sei o sentido da vida. Indicar séries e livros. Dançar na sala. Mas hoje acho que nem combina. Além do mais, tô com um pé meio prejudicado. Vivo ensaiando para falar da grande maravilha, rara e perfeita que ganhamos de presente: O planeta Terra. Sério, não precisa estudar astronomia a fundo. Só dá uma olhada nos vizinhos Vênus e Marte. A Terra é tão absolutamente generosa com nossos corpos frágeis de seres humanos que tínhamos que passar o dia inteiro saudando a mandioca e tudo mais que tem por aqui. Mas o Brasil está derrubando a Floresta Amazônica. Compactando solos. Ferrando com o ciclo de chuvas do Cerrado. Destruindo o Araguaia e outros rios. Tudo isso enquanto batem no peito com orgulho e riem dos "ecochatos".
Como se destruir a natureza não nos incluísse, como se a gente não fosse bicho. Talvez exista um refúgio garantido com ar condicionado e wifi quando acabarem com tudo, mas tenho certeza que eu não vou ter acesso a essa área vip. E tô aqui falando como classe média branca e privilegiada. Ter dinheiro pra pagar os boletos não me torna especial ou protegida da destruição avassaladora que está em curso.
Pensando aqui nesse dia de chatice, talvez o gatilho ou gota d'água tenha sido encontrar um negacionista da pandemia ontem no elevador. Puta que o pariu, minha gente, quase um ano que pandemia e tenho que escutar que "é só estar com a imunidade boa que não pega nada". Eu ainda tive energia pra retrucar: "É, mas como eu vou sair por aí testando imunidade de todo mundo?". Ah, gente, pelo amor. Está mais do que claro, claríssimo, que vem aí uma segunda onda de coronavírus, e a gente nem saiu da primeira! Mais uma leva de gente que vai ter Covid-19. Talvez os hospitais estejam mais preparados, talvez menos gente morra. Mas eu continuo com o firme propósito de não pegar. E, se pegar, não passa pra frente.
"Ai, Agatha, mas você acabou de ir pra praia". Fui sim. Tive que romper isolamento pra viajar e me aglomerar por causa do trabalho, então peguei férias e fui ter cuidado lá na Bahia. Uma semana pra respirar, usar máscara na beira-mar (tenho fotos) e cuidar da minha saúde mental. Porque precisamos de fôlego pra esperar a vacina, precisamos seguir os protocolos. O mundo é injusto e nem todo mundo pode ir respirar na praia. Tem gente que mora em pequenos paraísos particulares e outros que não tiveram um só dia de folga e sossego. Tem profissional na linha de frente. Tem entregador que se arrisca pra sobriver e trazer meus lanches. Então, eu que ganhei o bônus de ter ido pra praia mesmo com máscara cirúrgica, atraso de avião e álcool gel, reuni alguma energia pra rever os protocolos e me preparar pro que vem. Paciência, cuidado, comprando algumas brigas e escrevendo textão em dias de bode. Sigamos juntos, mas não me incomodem hoje. Beijos!
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